segunda-feira, 10 de maio de 2010

"Nada que vale a pena saber pode ser ensinado." Oscar Wilde



Eu odeio fazer provas. A estagiária me leva para a biblioteca e lê a prova para mim, ainda não sei ler, para  que as outras crianças não ouçam o que ela está lendo vamos para a biblioteca. Eu não gosto disto, mas minha mãe conversou comigo e disse que isto é justo e eu entendi. Também não sei escrever e nem todas as perguntas eu compreendo quando ela lê para mim. E quando eu compreendo não sei escrever a resposta. Minhas notas são muito baixas.

Eu queria poder falar só de coisas legais. Mas fazer provas me deixam chateada. Minha mãe disse que as pessoas normais ainda precisam aprender a enxergar as pessoas especiais. A gente acaba sabendo de histórias de outras crianças especiais. Tem uma escola aqui que resolveu o "problema" colocando todas as crianças de inclusão na mesma sala. A diretora desta "escola", para piorar a situação, para punir um menino "normal" que tava fazendo bagunça colocou ele para passar a tarde na sala das crianças especiais. Tem uma colega lá da clínica que frequentamos que foi recusada numa escola particular conhecida aqui de BH. O que sente uma mãe quando uma escola que é mantida pela igreja que ela frequenta recusa a matrícula de sua filha? Isto sem contar as histórias que ouvimos de crianças especiais que são deixadas no cantinho, que não são levadas para aulas de educação física, para o recreio, que não participam das festas das escolas ou das apresentações. E olha que nem falamos ainda da acessibilidade.

Quando minha mãe faz as tarefas comigo ela vai perguntando até eu entender a pergunta,ou quando eu não entendo ela me ajuda a compreender. Ela diz que fica feliz quando eu, depois de tentar muito, olho para ela e digo: -Legal!!! Ela anota as respostas para mim ou, quando são poucas palavras, eu mesmo anoto. Ela vai ditando a palavra para mim, ela repete muitas vezes e eu vou escrevendo a palavra devagar, sílaba por sílava. Ela sabe que muita coisa vai contra o que os professores super experientes acham que é o jeito correto de ensinar, mas isso que é o bom de ser mãe. Ela não precisa se importar com isto. Ela pode olhar além dos livros e me enxergar. O que ela quer conseguir é o meu "Legal!!!" Ela sabe que muitas daquelas questões que são riscadas nas minhas provas eu saberia responder...

Minha mãe sente muito orgulho do que sou. Os médicos disseram que eu viveria mais uns seis meses. Isto, quando eu tinha dois anos e meio. Hoje eu tenho doze anos e estou a todo vapor. Ela costuma fazer uma comparação. Quando uma criança nasce com alguma deficiência ou doença, espera-se que esta criança atinja uma certa porcentagem das funções normais esperadas. Geralmente, quando esta criança é assistida e estimulada, ela supera esta porcentagem várias vezes. Uma pessoa "normal" nasce com 100% de possibilidades. Quantas pessoas vocês conhecem que atingiu 100% de seu potencial?

3 comentários:

  1. às vezes venho aqui e o que leio me dá um nó na garganta... é preciso ter olhos para ver, ouvidos para ouvir... há passarinhos que têm asas de não voar - são presos em gaiolas...

    o amor faz milagres!
    besos

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  2. nana
    eu te disse de como te acho bonita? não falei??? ô eu distraída! é sim, te acho linda!
    besos

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  3. Olha, Nana, eu penso o seguinte: não existe apenas um "jeito correto" de ensinar (e de aprender). Se fosse assim, todas as pessoas iam saber as mesmas coisas, tirar as mesmas notas... No mundo, ninguém ia inventar nada novo, porque todos só saberiam aquilo que já sabiam. Por isso, na minha opinião, o "jeito correto" de ensinar é o jeito que o outro consegue aprender. Se ninguém é igual a ninguém, como todas as pessoas vão poder aprender as coisas do mesmo jeito?
    O importante, é cada um conseguir encontrar na vida o seu "jeito correto" de aprender...
    Na verdade, eu acho que todos que leram essa história ficaram um pouqinho com inveja de você e pensaram: nossa, eu tive que aprender igual a todo mundo, enquanto a Nana e mãe dela conseguiram achar um jeito especial, só delas...
    Então, toda vez que a sua mãe conseguir te explicar alguma coisa e você entender, vocês duas deveria pensar: "Legal! Nós temos o nosso jeito correto de ensinar e de aprender!"
    bjos, sobrinha linda!!!!!!!

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