Era um texto de Ruth Rocha para interpretação e leitura. Após ler o texto tínhamos de responder algumas perguntinhas. Era a história de uma garotinha de 6 ou 7 anos que tinha uma turma de amigos na rua em que morava. Era a mais nova deles e, por isto, a chamavam de pivete. Ela não gostava de jeito nenhum deste apelido, nem sabia o que significava. A rua era tranquila e quase não passavam carros. Seus amigos mais velhos andavam de bicicleta, mas ela não, porque não tinha nenhuma. Queria ter uma bicicleta, pois se andasse no meio de seus colegas parariam de chamá-la de pivete. No natal iria pedir uma bicicleta de presente.
Era o que dizia o texto, resumidamente. A primeira pergunta: Qual era o maior desejo da criança? Como eu havia lido o texto para ela, fiquei esperando a resposta óbvia: a bicicleta, claro.
Nana olhou para mim e disse, com a firmeza com que ela diz coisas que saem de dentro do sua bagagem ancestral: -Ela desejava ser grande. Levei um susto. Acho que o autor daquele livro didático também levaria, porque a próxima pergunta era: Com quantos anos ela conseguiu o que desejava? Ele falava da bicicleta, pois a menina ganhou a bicicleta naquele natal e a resposta seria 6 ou 7 anos.
O que mais me impressionou é que o texto direcionava a resposta para a bicicleta. Acho que a frase era: A menina quis muito uma bicicleta. Algo assim. Esta ambiguidade dela me encanta. Ela não consegue ler, contar, escrever, mas compreende dos desejos mais íntimos das pessoas e, mesmo quando direcionamos as respostas para as perguntas da vida, ela consegue ver além.
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